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Aug 27, 2023

Natanael Cano, o jovem que quis mudar o rumo da música mexicana e conseguiu

A voz melodiosa de Natanael Cano sai de um pequeno camarim do Auditório Nacional da Cidade do México. Ele canta No volveré, de Antonio Aguilar, enquanto seus músicos, amontoados ao seu lado, percorrem os ritmos do clássico ranchero. Ainda faltam alguns minutos para que as 10.000 pessoas que lotam o icônico local ouçam suas músicas. Durante a tarde, o entorno do auditório encheu-se de jovens vestidos da mesma forma: roupas urbanas com o detalhe ocasional das iniciais CT, em referência aos corridos tumbados, variedade da música mexicana. Em 2019, Cano deu início ao subgênero com Corridos Tumbados, o álbum que consolidou a posição da música mexicana no cenário global atual. Cano tinha 18 anos na época. Foi o efeito dominó de um jovem que percorria os tradicionais corridos nos corredores de sua escola.

Ele se muda para outra sala nos bastidores e termina de cantar a música a cappella. No trem da ausência eu parto, minha passagem não tem volta... Senta-se em um sofá. Ele está vestindo um moletom coberto de strass e dois colares com ainda mais. Ele toma alguns goles de um copo meio cheio. "Estou nervoso. A Cidade do México é sempre um pouco difícil para mim. A altitude aqui é muito diferente e você se cansa rapidamente. Comprei um tanque de oxigênio para aguentar o show", diz ele, enquanto os músicos continuam batendo ritmos na outra sala. Em poucos minutos, ele cantará seus corridos no icônico palco do auditório, ainda segurando seu copo de papel, e respirando fundo duas vezes com o cilindro de oxigênio, que ele chama de Marquitos.

O cantor iniciou o movimento dos corridos tumbados quando tinha apenas 18 anos. O subgênero vinha sendo desenvolvido por artistas como Ariel Camacho e Crecer German, duas de suas inspirações. “Muitas pessoas me dizem: 'Ah, comecei a ouvir corridos por sua causa'. Quando éramos crianças, os corridos não eram muito famosos e as pessoas não os reconheciam: ninguém importante os cantava. Na verdade, meu objetivo era mudar essa mentalidade para as pessoas da nossa idade. Disseram-nos que os corridos eram desprezados e fomos excluídos. Sempre quis mostrar que os corridos são foda pra caralho”, explica casualmente.

Os corridos tumbados nasceram da adaptação dos corridos tradicionais — contação de histórias com ritmos de valsa e polca — à cena atual, dominada por gêneros como o rap e o reggaeton. A mistura resultou em um subgênero em que são descritos a busca pelo prazer, o uso de drogas e a guerra, que também ocorre na música trap. Tudo isso com os instrumentos sonoros orgânicos típicos da música mexicana: mais vento em alguns casos (o norteño) e mais cordas em outros (o sierreño). "Me concentrei em colocar outras letras nos corridos mais juvenis, desde criança ainda. Comecei a chamar a atenção daquele público. Acho que tivemos uma grande influência em mudar essa parte da história, em deixar as pessoas saberem esse gênero não é brincadeira, é um gênero de respeito. E já é o número 1″, diz feliz ao ver o sucesso que vem colhendo. Listas de benchmarks globais como a do Spotify têm dado conta disso, com a aparição inédita de vários Faixas mexicanas em seu Top 50 mundial.

Um artista cujo nome aparece repetidamente no catálogo é Peso Pluma, o maior exemplo do subgênero. Hassan Kabande (seu nome verdadeiro) garantiu o sucesso da música mexicana com colaborações como a da última quarta-feira, com o popular produtor argentino Bizarrap. As sessões de música BZRP Vol. 55 apresentou mais sonoridades mexicanas do que os ritmos eletrônicos a que o produtor está acostumado. E em menos de 24 horas teve mais de 20 milhões de visualizações no Youtube. O nome de Natanael Cano ficou em segundo plano, algo que parece gerar mais orgulho do que inveja nele. "Dá-me prazer e adoro-o. No fundo estamos a fazer música do mesmo género. Antes sentia-me um pouco aborrecido; não havia outros artistas [a fazer corridos tumbados], era só eu. Depois vêm estes outros grupos saiu com corridos e levantou a bandeira, apoiando o que queríamos que eles apoiassem. Não vemos nada de errado nisso. Somos gratos por tudo", diz.

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